segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

toque do pinheiro







O Pinheiro representa hoje o mais participado número nicolino, sendo igualmente o mais difundido por todo o país.O cortejo é liderado pela figura máxima deste dia, um membro da Comissão de Festas, o Chefe dos Bombos,atrás de si seguem os estudantes, novos e velhos, rufando nas caixas o toque do Pinheiro e batendo forte nos bombos ao ritmo marcado pelo Chefe dos Bombos

Uma história de amor

Mário Vilela é de Vila Verde. Sandrine Marques é de Viana do Castelo. Ambos assistiram pela primeira vez ao “Pinheiro” no ano de 1999. “Já nos conhecíamos há dois anos, estudávamos juntos em Azurém” recorda Mário. No entanto nunca “tínhamos olhado um para o outro com olhos de ver”, acrescenta.Mas essa noite seria diferente. “Não sei se foi do barulho dos bombos ou do álcool, mas fomos os dois fulminados pela seta de Cupido. Casamos agora em Novembro , precisamente dez anos depois, no dia 29 de Novembro…. é um domingo… e à noite lá estaremos para assistir!”, remata com um ‘piscar de olhos’.

"Até a alma estremece"















Meia-noite em Guimarães. Milhares de pessoas acumulam-se no Terreiro do Cano, ali, mesmo ao lado do Campo de S. Mamede onde, no século XII, ocorreu a batalha que originou a nacionalidade. Mas, nesta noite fria de 29 de Novembro a batalha não se faz com espadas ou lanças. As armas são as baquetas e o inimigo está mesmo ali ‘à mão’, preso à cintura ou a tiracolo.
É dado o sinal. O chão estremece. O rufar ensurdecedor dos bombos e caixas anuncia que o “Pinheiro” está em movimento.

É assim desde tempos que a memória esqueceu, mantendo-se esta tradição praticamente inalterada ao longo dos anos. O “Pinheiro” marca o início oficial da celebração profana das “Festas Nicolinas” e é hoje o número mais participado. O seu aparecimento deriva de uma tradição ancestral minhota que consistia em anunciar o início das festas levantando um grande mastro, geralmente um pinheiro, no local onde estas se realizavam.



O cortejo


À cabeça da turba segue o ‘Chefe dos Bombos’. É ele a figura máxima do evento que conduz e lidera todo o cortejo, marcando o ritmo da forte batida.

O “Pinheiro” desloca-se enfeitado com lanternas e um ramalhete verde e branco, as cores escolásticas. É colocado em carros puxados por juntas de bois. À sua frente segue uma representação de Minerva, deusa da sabedoria, desempenhada por um homem travestido envergando um traje de soldado romano.

A condução do “Pinheiro” está vedada às mulheres. Apenas os homens da cidade o podem fazer, numa representação simbólica da virilidade masculina. “Segundo dizem, o Pinheiro tem uma simbologia muito própria. Tem a ver com a virilidade do homem em que se escolhe o pinheiro mais comprido e imponente da região”, explica a responsável pelas Festas Nicolinas no Ensino Secundário, Fátima Marques.

A hora de arranque é sempre à meia-noite. Começa no Terreiro do Cano, seguindo depois pelo castelo da cidade, Palheiros, Rua de Santo António, Toural, Alameda de S. Dâmaso e Campo da Feira, terminando no Largo de S. Gualter. Mas a festa não acaba aqui: no final do cortejo os estudantes assentam arraiais em frente ao antigo Liceu Nacional de Guimarães, onde ficam a ‘rufar’ até ao nascer do sol. Esta tradição é relativamente recente e iniciou-se pelo facto de, há alguns anos atrás, não haver dispensa das aulas nesse dia e os estudantes aglomeravam-se ali, a tocar, para impedir a sua realização.

Vimaranenses espalhados pelo mundo regressam à sua terra neste dia tão especial para a cidade. Anselmo Gonçalves tem 64 anos. Esteve 17 anos em França “a trabalhar nas obras”. Hoje, regressado à terra que o viu nascer, lembra com entusiasmo as loucuras e peripécias que cometeu para nunca falhar a um único “Pinheiro”. No dia 29 de Novembro “fizesse chuva ou fizesse sol, lá estava eu. Não há nada como isto… nem na França”, disse, visivelmente comovido. E, antes da sua voz ficar definitivamente embargada, ainda conseguiu suspirar: “até a alma estremece!”

S.Nicolau, o padroeiro dos estudantes

S. Nicolau viveu nos séculos III e IV. Foi Bispo de Mira, Turquia, e celebra-se a 6 de Dezembro. O seu culto iniciou-se cerca de 200 anos após a sua morte. A sua popularidade cresceu de tal forma que se tornou protector das raparigas pobres, dos famintos, perseguidos, comerciantes, marinheiros e navegantes e das crianças. Por ter ressuscitado três estudantes esquartejados S. Nicolau é também o ‘glorioso Patrono dos Estudantes’.
O seu culto espalhou-se por todo o ocidente europeu. No nosso país, a sua celebração tem lugar, maioritariamente, no centro e no norte, tendo chegado a Guimarães através dos romeiros de “Santiago”, adquirindo aqui uma fixação especial.
A Capela de S. Nicolau, construída em 1664 no Largo da Oliveira, foi recentemente reedificada. Todos ao anos, no domingo mais próximo do dia 6 de Dezembro, é celebrada a missa do santo na Igreja da Oliveira.


Origem das festas nicolinas


Tal como acontece com a grande maioria das actuais manifestações profano-religiosas espalhadas por todo o Minho, a origem das “Festas Nicolinas” é unicamente religiosa.
O ano de 1664 é apontado como a data em que foi construída a Capela de S. Nicolau pelos estudantes de Guimarães. Embora se presuma que, por essa altura, os festejos já estavam enraizados na população estudantil vimaranense as “Nicolinas” surgem, formalmente, apenas em 1691, aquando da criação da Irmandade de S. Nicolau. A designação actual de “Festas Nicolinas” surge apenas no século XIX.Consideradas por historiadores como uma das mais antigas tradições académicas da Europa, as “Festas Nicolinas” estão a entrar numa nova dimensão com a candidatura a Património Oral e Imaterial da Humanidade.

Comissão de Festas Nicolinas



Outrora designada por “Academia Vimaranense” a Comissão de Festas Nicolinas é constituída, anualmente, por dez estudantes de Guimarães. A sua eleição, tem lugar no Jardim do Carmo, entre os finais de Setembro e princípios de Outubro, num acto em que podem votar todos os estudantes de Guimarães.
Para estes jovens, apenas homens e com idades entre os 16 e os 20 anos, fazer parte da comissão representa a maior honra das suas vidas. O seu nome fica grafado, pelo seu próprio punho, num livro de actas onde se registam as sucessivas comissões, desde há centenas de anos

Monumento nicolino



Inaugurado a 25 de Janeiro de 2008, junto à igreja de Santos Passos, o Monumento ao Nicolino é da autoria do escultor vimaranense José de Guimarães.
O esvoaçar da “capa” que faz parte do traje académico serviu de inspiração ao nicolino e artista vimaranense.
 Perto da igreja, onde em cada ano é erguido o Pinheiro nas festas Nicolinas, está esta obra contemporânea que é também a homenagem da cidade berço aos estudantes.O projecto contou com a contribuição da Associação dos Antigos Alunos, da Câmara Municipal e do escultor.

Herança Nicolina

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Numeros Nicolinos

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